22/07/09

PASSOS DA IGREJA DIOCESANA

A renovação da pastoral Diocesana e a falta de Sacerdotes vão implicando que, de quando em vez, se faça alguma alteração na colocação do Clero. Nem sempre é fácil satisfazer o pedido de quem deseja ser transferido. Mais difícil se torna quando alguém pede para deixar as paróquias por motivo de idade ou doença. Pior, ainda, bater à porta certa e disponível de quem deve ocupar esses lugares. Nestas andanças, porém, preocupa-nos antever o futuro com um presbitério cada vez mais pequeno, o bem do Sacerdote que não queremos “espiritualmente desvitalizado” nem “pastoralmente desanimado” e o bem do Povo de Deus que tem o direito e precisa do testemunho alegre dos Sacerdotes e do anúncio da Pessoa de Jesus Cristo e da novidade evangélica que libertam e dão sentido à vida.

Valha-nos no meio deste jogo da vida o Divino Espírito Santo como árbitro, a compreensão dos fiéis e o trabalho que se tem feito na Diocese para formar e responsabilizar Leigos para as Celebrações da Palavra na ausência de Presbítero e para outras actividades importantes de evangelização, sem clericalização dos mesmos nem desconfiança que só perturbam e travam a caminhada. Este trabalho tem de continuar. “É um grande trabalho pôr os outros a trabalhar”, penso que foi João XXIII que o afirmou. Os Sacerdotes têm de centralizar a sua vida e acção no essencial e específico que, como sabemos, não é multiplicar Eucaristias para satisfazer exigências bairristas ou de fé mal esclarecida, nem tampouco reduzir a sua acção pastoral apenas à celebração da Eucaristia, ou, pior, nem sequer celebrar porque não há intenções!

Que o Santo Cura d’Ars, o homem da Eucaristia, do Confessionário e da Caridade, nos ajude a todos – a mim, sobretudo – a descobrir caminhos de verdadeira exigência e qualidade pessoal para que a Vocação e Missão ganhem novo fôlego, mais sentido e conteúdo. Os fiéis agradecerão.

Um caminho a percorrer

O conselho de Jetro a Moisés, seu genro (cf. Ex 18, 13-27), e a atitude que os Apóstolos assumiram para responder às exigências pastorais do seu tempo (cf. Act 6, 1-6) são para nós um testemunho e uma provocação. Os Sacerdotes não podem esgotar-se com aquilo que os outros podem e devem fazer nem deixar de fazer o que verdadeiramente lhes compete. Esta tem de ser a aposta, embora eu saiba, também por experiência própria, que no terreno é sempre bem mais difícil de concretizar!... Mas este é o caminho. E não permite desânimos, nem molezas, nem o “deixar correr”... Implica, isso sim, investir na formação de pessoas capazes, de pessoas com fé e sentido eclesial. Exige confiar e distribuir tarefas, preparando o presente e, sobretudo, os tempos que se aproximam com a resposta possível e adequada. Cada vez mais a presença dos Padres será cada vez menos. A quantidade do futuro - e já a do presente! - será a qualidade e não a quantidade. É preciso, pois, renovar constantemente o entusiasmo da primeira hora e fazer com que Cristo viva em nós para respondermos com credibilidade, paz e alegria aos desafios da evangelização deste mundo tão belo e cheio de potencialidades em que nos foi dado o privilégio de viver e de sermos Padres. E a nós, de sermos Padres nesta Igreja de Portalegre-Castelo Branco, mimoseada com a querida e simpática juventude da terceira e quarta idade e animada pela traquinice feliz e alegre de um punhado de jovens e crianças que por cá vão ensaiando o voo para partirem em busca de novos ares e outros sonhos. Enfim, somos nós e as nossas circunstâncias, como diria o filósofo.

A minha gratidão

Agradeço a disponibilidade e a generosidade dos Sacerdotes e Diáconos que não se pouparam a esforços para me ajudarem a dar a melhor resposta às presentes situações. Preocupamo-nos o apostar onde se deve apostar tendo presente o futuro próximo, o melhor aproveitamento dos nossos recursos humanos, o gosto dos Sacerdotes (tanto quanto possível!) por esta ou aquela zona pastoral e a irradiação a partir de centros geográficos para que os Sacerdotes, dentro da liberdade que lhes assiste, possam ter esta possibilidade de conviver e viver com o maior apoio possível e a dignidade que a convivência é capaz de facultar. Muito me agrada saber e ver que os Conselhos, Comissões, Secretariados, Movimentos e Obras funcionam, em equipa, como verdadeiros motores da dinâmica diocesana, começando por construir a unidade e a comunhão a partir de dentro, como primeiro testemunho da sua presença eclesial e vitalidade apostólica. É importante, porém, não esquecer que o diabo nos rodeia como um leão que ruge e procura a quem devorar (cf. IPed 5, 8-9). E os seus rugidos vão-se ouvindo, de quando em vez, aqui e além, provocando insónias em quem sabe que a Igreja se define como comunhão e só assim será fermento, luz e sal. Urge estar de atalaia para que, com humildade e sentido eclesial, possamos resistir fortes e firmes na fé às tentações do poder e às mentalidades instaladas de quem se julga insubstituível, dono da verdade, das situações e dos outros por falso e orgulhoso entendimento de si próprio ou da missão que exerce. Em Igreja, a autoridade ganha-se pela maneira como se está e vive, como se acolhe e actua com humildade e discrição, em comunhão e unidade.

Nomeações

Ainda que seja preciso, dentro em breve e se possível, dar mais alguma resposta a um ou outro pedido que me foi formulado por alguns Sacerdotes, dou conta da movimentação eclesiástica já combinada, tendo também em conta que os Secretariados Diocesanos da Pastoral da Juventude e da Pastoral das Vocações passarão a ser um só, conforme o acordado nas respectivas instâncias de corresponsabilidade e participação.


Assim:

Cónego Lúcio Alves Nunes, dispensado, a seu pedido, de Vigário Geral da Diocese de Portalegre-Castelo Branco, de Pároco da Paróquia de Nossa Senhora da Assunção da Sé de Portalegre, de Assistente da Caritas Diocesana e nomeado, também a seu pedido, Vigário Paroquial de S. Pedro da Sertã, São João Baptista de Sobral, São João Baptista do Peso, Nossa Senhora do Carmo de Madeirã, Arciprestado de Sertã, e de Nossa Senhora da Assunção de Cardigos, Arciprestado de Abrantes;

P. Paulo Henriques Dias, nomeado Vigário Geral da Diocese de Portalegre-Castelo Branco e Moderador da Cúria Diocesana em acumulação com os serviços pastorais que tem vindo a desempenhar. Irá ainda continuar os seus estudos em Direito Canónico na Faculdade de Direito Canónico da Universidade Pontifícia de Salamanca, em regime não presencial.

Cónego Emanuel André Matos e Silva, dispensado de Director do Secretariado Diocesano da Pastoral das Vocações, continuando Vigário Episcopal para o Clero, Ministérios e Vocações e Director Espiritual do Seminário Maior de Coimbra;

Cónego Manuel Marques Pires, Chanceler da Cúria Diocesana e Pároco da Paróquia de São Gregório Magno do Reguengo, dispensado de Moderador da Cúria Diocesana e de Assistente Diocesano do Movimento da Mensagem de Fátima;

Monsenhor Francisco Vermelho, dispensado, a seu pedido, de Mestre de Cerimónias das Celebrações presididas pelo Bispo na Sé Catedral, continuando no exercício das actividades que vem exercendo;

P. Marcelino Dias Marques, dispensado de Assistente do Secretariado Diocesano da Pastoral Familiar, de Pároco de S. João Baptista de Alegrete, Nossa Senhora da Assunção de Arronches e de Nossa Senhora da Graça de Degolados e nomeado Pároco de Nossa Senhora da Assunção da Sé de Portalegre e Mestre de Cerimónias das Celebrações presididas pelo Bispo na Sé Catedral, Arciprestado de Portalegre, continuando com os outros serviços que lhe estão cometidos;

P. Ilídio Alberto Ribeiro Mendonça, nomeado Assistente do Secretariado Diocesano da Pastoral Familiar em acumulação com as actividades que vem exercendo;

P. José António Ribeiro Gonçalves, nomeado Pároco de São João Baptista do Peso, Arciprestado de Sertã, e de Nossa Senhora da Assunção de Cardigos, Arciprestado de Abrantes, em acumulação com as paróquias que lhe estão confiadas;

P. Daniel Santos Almeida, nomeado Vigário Paroquial de São João Baptista do Peso, Arciprestado de Sertã, e de Nossa Senhora da Assunção de Cardigos, Arciprestado de Abrantes, continuando como Vigário Paroquial das paróquias em que já colabora;

P. António Pires da Silva, dispensado, a seu pedido, de Pároco de Nossa Senhora da Assunção de Cardigos, Arciprestado de Abrantes, e de São João Baptista do Peso, Arciprestado da Sertã, e nomeado Pároco de Nossa Senhora da Conceição de Salvaterra do Extremo, Nossa Senhora da Conceição de Segura, Santo António de Toulões e Nossa Senhora da Consolação de Monfortinho, Arciprestado de Castelo Branco;

P. Adelino Dias Cardoso, dispensado de Director do Secretariado Diocesano da Pastoral da Juventude e nomeado Pároco de Santiago Maior de Amieira do Tejo e de Nossa Senhora da Graça de Arez, em acumulação com a paroquialidade de Nossa Senhora da Assunção de Gavião e Nossa Senhora da Graça de Margem, Arciprestado de Ponte de Sor, trabalhando em estreita colaboração com o Cónego José Dias da Costa, pároco vizinho;

Cónego José Dias da Costa, dispensado da paroquialidade de Santiago Maior de Amieira do Tejo e de Nossa Senhora da Graça de Arez, continuando com as outras paróquias que lhe estão atribuídas e trabalhando em estreita colaboração com o P. Adelino Dias Cardoso, pároco vizinho;

P. Nuno Miguel Barradas Tavares Folgado, dispensado de Vigário Paroquial de Santiago Maior de Amieira do Tejo, Nossa Senhora da Graça de Arez, Nossa Senhora da Graça de Montalvão, Espírito Santo de Nisa, Nossa Senhora da Graça de Nisa, Santa Ana de Santana, São Matias do Cacheiro e de São Simão do Pé da Serra e nomeado Director do Secretariado Diocesano da Pastoral da Juventude e das Vocações, continuando como Director do jornal diocesano “O Distrito de Portalegre”;

P. João Pires Coelho, dispensado, a seu pedido, de Director do Secretariado Diocesano da Mobilidade Humana: Migrações, Turismo e Minorias Étnicas, continuando com os outros serviços que lhe estão atribuídos;

P. Fernando Manuel de Jesus Farinha, dispensado, a seu pedido, de Arcipreste do Arciprestado de Castelo Branco, de Pároco de Nossa Senhora da Conceição de Salvaterra do Extremo, Nossa Senhora da Conceição de Segura, Santo António de Toulões e Nossa Senhora da Consolação de Monfortinho, Arciprestado de Castelo Branco, e nomeado Director do Secretariado Diocesano da Mobilidade Humana: Migrações, Turismo e Minorias Étnicas, Assistente da Caritas Diocesana e Pároco de S. João Baptista de Alegrete, Nossa Senhora da Assunção de Arronches e de Nossa Senhora da Graça de Degolados, Arciprestado de Portalegre;

P. Manuel Narciso Alves, dispensado, a seu pedido, de Director Diocesano do Movimento do Apostolado da Oração, continuando Capelão da Santa Casa da Misericórdia de Abrantes;

P. João Esteves Filipe, Capelão Militar, nomeado Director Diocesano do Movimento do Apostolado da Oração;

P. João Avelino, dispensado de Director do Secretariado Diocesano da Pastoral da Saúde, continuando com as paróquias que lhe estão confiadas;

P. João Maria Antunes Lourenço, nomeado Director do Secretariado Diocesano da Pastoral da Saúde em acumulação com os trabalhos pastorais à sua responsabilidade;

Diácono Francisco Fernandes Alves, nomeado, em conformidade com o § 3 do Artigo 8º dos Estatutos do Movimento da Mensagem de Fátima, Assistente deste Movimento que prevê que o Conselho Diocesano seja dinamizado e coordenado por um Secretariado assistido por um Sacerdote ou Diácono.

Diácono Manuel Mendonça Esteves, que apenas estava nomeado para prestar serviço pastoral na Paróquia de São Pedro da Sertã, passará a colaborar também nas paróquias de São João Baptista de Sobral, Nossa Senhora do Carmo de Madeirã, São João Baptista do Peso, Arciprestado de Sertã, e de Nossa Senhora da Assunção de Cardigos, Arciprestado de Abrantes;

Diácono Álvaro da Conceição Martins, que apenas estava nomeado para prestar serviço pastoral na Paróquia de São Pedro da Sertã, passará a colaborar também nas paróquias de São João Baptista de Sobral, Nossa Senhora do Carmo de Madeirã, São João Baptista do Peso, Arciprestado de Sertã, e de Nossa Senhora da Assunção de Cardigos, Arciprestado de Abrantes;


Portalegre, 22 de Julho de 2009.

+Antonino Eugénio Fernandes Dias

Bispo de Portalegre-Castelo Branco


15/07/09

VALORIZAR O AMBIENTE

COMISSÃO JUSTIÇA E PAZ

Diocese de Portalegre-Castelo Branco

VALORIZAR O AMBIENTE

INCENTIVAR A AGRICULTURA E A FLORESTA

COMBATER A POBREZA

Uma particular atenção merece o trabalho agrícola, pelo papel social, cultural e económico que detém nos sistemas económicos de muitos países, pelos numerosos problemas que deve enfrentar no contexto de uma economia cada vez mais globalizada, pela sua crescente importância na protecção do ambiente natural: portanto são necessárias mudanças radicais e urgentes, para restituir à agricultura – e aos homens dos campos – o seu justo valor como base de uma sã economia, no conjunto do desenvolvimento da comunidade social (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, nº 299).

Esta transcrição vem a propósito da Cimeira do G8, dos países mais ricos do mundo, que no passado dia 8 de Julho, em Itália, discutiu o problema das alterações climáticas e pretendeu dar um forte sinal sobre a limitação de gases com efeito de estufa. Na verdade, neste mundo globalizado, estão em curso transformações ambientais, cujos efeitos degradadores já estão a fazer-se sentir em múltiplas situações que vão desde a escassez das colheitas até à diminuição da água doce em variadas zonas do globo. Ora, essas alterações decorrem de um grande objectivo que os países mais desenvolvidos elegeram: o de produzir muito com os menores custos possíveis, para que se consuma e se desperdice mais, não importando os meios, mesmos que eles acarretem a deterioração dos solos, do ar e das águas.

Por sua vez, as populações, em Portugal, cada vez mais se deslocam para as zonas do litoral, com maiores capacidades empregadoras, com um tecido industrial e de serviços mais denso ou, então, os que podem, vão emigrando. Assiste-se, assim, a uma hemorragia demográfica dos que estão na idade activa do interior para as zonas litorais, de que a Diocese de Portalegre-Castelo Branco é exemplo.

A política de subsídios à produção agrícola dos países ricos, segundo uma nota do Conselho Pontifício “Justiça e Paz”, da Santa Sé, de Junho de 2008, provocou que baixassem os preços durante décadas, e isso fez com o que os países pobres deixassem de produzir bens agrícolas próprios e dependessem das importações. O resultado é que a maior parte dos países pobres se converteu em importador de comida, com graves consequências para a sua capacidade produtiva e de inovação no sector agrícola. De certo modo, foi isso que aconteceu nas zonas agrícolas do interior do nosso País.

Também a nível da floresta temos assistido a uma degradação constante deste recurso natural, quer pela falta de cuidado na manutenção das matas, quer na preservação e definição das espécies mais adequadas.

Há, pois, que trazer de novo para este interior e, especialmente, para as zonas mais despovoadas, mediante uma formação séria, uma reconversão eficaz e incentivos apropriados, as pessoas das grandes cidades. Há que criar aqui modos de produção sustentáveis, aplicando tecnologias amigas do ambiente, gestão parcimoniosa dos recursos hídricos e modos de comercialização fluidos, com o mínimo de intermediários.

O espírito cooperativo terá que se incentivar e, aí, o Ministério da Agricultura, os Institutos Politécnicos existentes nesse interior, fundações, cooperativas, etc., poderão ter um papel importante quer de dinamização, quer de fornecimento dos instrumentos legais. Igualmente, as Escolas Superiores Agrárias, dependentes desses Institutos, em coordenação com o Ministério da Agricultura, poderiam propor as culturas mais adequadas, tendo em vista os mercados visados, ao mesmo tempo que forneceriam os apoios técnicos necessários.

Talvez esta fosse uma das vias para criar empregos, melhorar o ambiente, descongestionar os grandes centros urbanos, combater a marginalidade e a delinquência, dar sentido a vidas que andam perdidas. Talvez, assim, se ajudasse a combater a pobreza.

Cruzar os braços e estar à espera que a crise nos devore é atentar contra o desenvolvimento do País. Pior do que isso: nada fazer é desperdiçar as capacidades da terra e os dons que Deus pôs nas mãos e na mente de cada homem e de cada mulher.

Portalegre, 15 de Julho de 2009

08/07/09

JOGOS ESCONDIDOS COM A VERDADE DE FORA


A transparência continua a ser a virtude primeira da relação humana. Que se explicita no tempo gratuito e sereno das férias.

Está aí o Verão. E as férias, o mar, a montanha, as origens, a memória, a família. Não se juntam, necessariamente numa grande festa. Mas muitas vezes aproximam-se numa espécie de Natal menos apressado, com tempo para assentar, conviver, recordar e celebrar. Aparentemente sem nada de sagrado. Mas com sentido numa espécie de visita à infância, sem ornamentos do trabalho, da cidade, da política, dos meios herméticos quantas vezes geradores de máscaras para uma espectáculo social ou pódio de prestígio para uma visibilidade respeitável em relação aos outros.

Temos presenciado, de há algum tempo a esta parte, espectáculos perturbadores em matéria de economia, finanças, negócios, política, empreendimentos, sempre aos milhões, com jogos escondidos sem percebermos o que significam as promessas, os contratos, os desvios, corrupções, roubos, manobras de compra, venda, cumplicidade, estratégias de ocultação do que se pretende, embaciamento do olhar do cidadão comum que não se apercebe dos jogos por baixo da mesa e até desconfia da sanidade do seu próprio olhar. Assim, nada é o que parece, embora se diga que em política o que parece é. As acções ou omissões sobre dinheiros, justiça, saúde, educação, tecnologia, manobras empresariais, cobrem-se duma neblina enganosa que, a um tempo deixa ver metade e oculta a outra metade dos factos e das manobras em vários quadrantes. A mesa de bilhar parece a grande parábola dos poderes. Um toque, aparentemente simples, leva efeito, direcção, sequência, recolocação, vitória ou suicídio. É um jogo complexo, escondido na inteligência e habilidade de quem desfere um impulso débil numa bola fria e indiferente.

Há gestos com destino de glória ou de humilhação. Directos, públicos, claros, registados, repetidos, interpretados por críticos com pouco pudor mas que sabem escandalizar-se, rasgar as vestes, invocar a moral, dizer-se, finalmente, civilizados. E que espalham o seu olhar à sociedade que exorciza tabus, vive opulentamente das públicas virtudes e vícios privados. Que esmaga impiedosamente quem desconhece ou transgride as regras. Ai de quem tem a infelicidade de cair nesta armadilha.

E, todavia, a transparência continua a ser a virtude primeira da relação humana. Que se explicita no tempo gratuito e sereno das férias. Mas que diz respeito ao todo pessoal e social. A mentira não é boa regra para nenhum quadro de vida.

António Rego

Editorial | António Rego | 2009-07-08 | 00:01:14 | 2961 Caracteres | ......

06/07/09

O TEMPO

Um professor diante da sua turma de filosofia, sem dizer uma palavra, pegou num frasco grande e vazio de maionese e começou a enchê-lo com bolas de golfe. A seguir perguntou aos estudantes se o frasco estava cheio. Todos estiveram de acordo em dizer que 'sim'.

O professor tomou então uma caixa de fósforos e a vazou dentro do frasco de maionese. Os fósforos preencheram os espaços vazios entre as bolas de golfe. O professor voltou a perguntar aos alunos se o frasco estava cheio, e eles voltaram a responder que 'Sim'.

Logo, o professor pegou uma caixa de areia e a vazou dentro do frasco. Obviamente que a areia encheu todos os espaços vazios e o professor questionou novamente se o frasco estava cheio. Os alunos responderam-lhe com um 'Sim' retumbante.

O professor em seguida adicionou duas chávenas de café ao conteúdo do frasco e preencheu todos os espaços vazios entre a areia. Os estudantes riram-se nesta ocasião. Quando os risos terminaram, o professor comentou:

'Quero que percebam que este frasco é a vida. As bolas de golfe são as coisas importantes, a família, os filhos, a saúde, a alegria, os amigos, as coisas que vos apaixonam. São coisas que mesmo que perdessemos tudo o resto, a nossa vida ainda estaria cheia. Os fósforos são outras coisas importantes, como o trabalho, a casa, o carro etc. A areia é tudo o resto, as pequenas coisas. Se primeiro colocamos a areia no frasco, não haverá espaço para os fósforos, nem para as bolas de golfe. O mesmo ocorre com a vida. Se gastamos todo o nosso tempo e energia nas coisas pequenas, nunca teremos lugar para as coisas que realmente são importantes. Prestem atenção às coisas que realmente importam. Estabeleçam as vossas prioridades, e o resto é só areia.'

Um dos estudantes levantou a mão e perguntou: Então e o que representa o café? O professor sorriu e disse: 'Ainda bem que perguntas! Isso é só para vos mostrar que por mais ocupada que a vossa vida possa parecer, há sempre lugar para tomar um café com um amigo'.

CASAR OU JUNTAR-SE?

No verão os pedidos de casamento aumentam em quase todas as paróquias. Por isso deixo aqui um texto que pode ajudar à reflexão sobre o casamento. Já é de Janeiro, mas permanece actual...


Perguntei-lhes se alguma vez tinham pensado em casar-se. Olharam para mim admirados. Então ele, com um sorriso de quem perdoa uma pergunta tão ingénua, tomou a iniciativa de responder. «Casar-se? Para quê? Já nos amamos e isso é o importante. Que sentido tem uma cerimónia exterior que não acrescentará nada ao nosso amor? Queremos um amor genuíno! Queremos um amor livre! Queremos um amor sem nenhum tipo de coacção! Este modo de actuar parece-nos muito mais sincero. Não necessitamos de nenhum tipo de ataduras. Ataduras que cortariam as asas da nossa liberdade». Ela concordava com a cabeça. Todo o raciocínio do namorado parecia lógico. Estava de acordo com ele. Não havia fissuras na sua argumentação.

À primeira vista, parece que o casamento significa uma perda de liberdade. Se uma pessoa decide casar-se, perde a capacidade de voltar a fazê-lo no futuro. Se a liberdade se entende somente como capacidade de escolha, sem dúvida que o casamento significa a perda dessa capacidade. Mas será que a liberdade é somente isso?

Hoje em dia, o casamento é muitas vezes visto como uma realidade oficial, formal e sem muito valor. Um convencionalismo antiquado. Uma instituição que “acorrenta” com elementos objectivos e escravizantes uma relação subjectiva e livre. A liberdade fica “atada”. A liberdade fica “obrigada” no futuro. Não parece sensato introduzir elementos “coactivos” numa relação livre. Introduzir elementos objectivos numa relação subjectiva.

É uma visão simplista. Assim como a noz não é somente a sua casca, o casamento não é somente a sua cerimónia exterior. O casamento é um vínculo que se cria a partir da livre vontade daqueles que se casam. O “sim” que pronunciam transforma-os. É um “sim” que compromete. A partir desse “sim”, o futuro fica determinado pelo “tu”. Quem ama de verdade não deseja ser nem viver sem aquele que ama. Não deseja um futuro sem o outro. Seria um futuro sem sentido. Sem sentido também para a liberdade do “eu”.

Quem ama de verdade deseja a fusão. Deseja um “nós” em lugar do “eu” e do “tu”. Deseja o compromisso que é o que dá origem ao “nós”. Um compromisso que não somente não tira a liberdade, mas liberta. Liberta o “nós” dos perigos do egoísmo e do orgulho. A eternidade no amor não pode vir da mera atracção mútua. Nem do simples enamoramento afectivo. Nem dos sentimentos românticos, por muito sinceros que eles sejam. A eternidade no amor só pode vir da liberdade que não teme comprometer-se sem condições.

Por isso, “juntar-se” não é a mesma coisa que casar-se. “Juntar-se” não muda o “eu”. Só muda as circunstâncias em que o “eu” vive. Pelo contrário, casar-se (comprometer-se de verdade), transforma o “eu”. Surge o “nós”. Um “nós” que será capaz de gerar vida e que cuidará dessa vida. Um “nós” que resistirá às intempéries, porque está protegido pela liberdade responsável daqueles que se amam de verdade.

Pe. Rodrigo Lynce de Faria